Para minha surpresa, quando vou “adentrar” (palavra horrível, ridícula) ao plenário da Câmara dou de cara com a Maria sorrindo para mim. Abri também um sorriso e fui logo interpelando: _
Maria Sete Filhos que fazes aqui, mulher?
_ Seu Astério acordei com um homem dentro de casa no escuro. A princípio imaginei que não tinha nada de errado com a Maria Sete Filho em acordar a noite com um homem dentro de casa. Principalmente para quem já tem oito filhos. Mas ela mesma se apressou em tirar minha dúvida.
_ Era um cabra safado. Dei de mão a uma faca tipo peixeira e corri atrás dele. Se pego ele invadindo minha casa eu matava mesmo. Era de noite. Estava escuro. Olha seu Astério, aquele barraco velho não tem segurança nenhuma. Depois que o senhor foi lá e fez aquelas fotografias foi um pessoal da Assistência Social e perguntaram se eu era a Maria Sete Filhos. Eu disse que sim. Eles olharam meu barraco e disseram que vão me ajudar. Me deram até umas coisas para as crianças. Mas minha revolta mesmo foi não ter conseguido pegar o cabra que tava dentro da minha casa. Ele escapou por pouco. Eu ia furar ele todinho de faca. Pelas minhas crianças eu dou minha vida.
_ Disso eu sei. Fica calma Maria. Essa semana eu vou lá no ramal e a gente conversa melhor. Certo?
_ O senhor vai mesmo? _ Claro que vou. Quando a Maria desceu as escadas da Câmara fiquei pensando, ainda surpreso com a sua repentina visita. Como pode, meu Deus, uma mulher com uma imbiricica de oito filhos pequenos não ter onde morar? Quem são os pais dessas crianças? Se fosse no começo do mundo diria que ela estaria cumprindo um mandamento divino: “Crescei, multiplicai, enchei a terra”. Mas, não! Simplesmente largar de mão não dá. Ela precisa de ajuda.
Existe também outro mandamento muito maior: "Ama o teu próximo como a ti mesmo".
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