terça-feira, 3 de julho de 2007

Eleições ou festival de compra de votos?

A partir das eleições de 2002 comecei – como apresentador do programa Bom Dia Rio Branco –, a investir no combate a compra de votos. Além dos comentários que costumava fazer, criei um espaço para a Justiça Eleitoral dialogar com a sociedade. Convidei a juíza Solange Fagundes que, na ocasião, era juíza da propaganda eleitoral na cidade.

Toda quarta-feira pela manhã lá estava à juíza aconselhando e orientando os eleitores: “Não vendam suas consciências”. “Aprendam a escolher seus representantes pela história de luta e pelo exemplo”. Muitas vezes abria os telefones para a participação do público. Acontecia uma enxurrada de telefonemas com denúncias de compra de votos e abuso de poder econômico em eleições passadas.

Recordo muito bem que pautei por diversas vezes a equipe do Bom Dia para cobrir o programa “Eleitor do Futuro”. Perdi as contas das vezes que a desembargadora Eva Evangelista, presidente do TRE na ocasião, deu entrevistas. Entrevistamos também vários alunos comentando o programa, afinal de contas, eles são os eleitores do futuro.

Sempre fiz esse gesto como cidadão. De minha parte não havia interesse particular a ser defendido. Não estava defendendo mandato. Me sentia na obrigação de fazê-lo, já que a maioria dos esquemas de compra de voto se dão com dinheiro público. Bons candidatos que nunca chegaram a ser eleitos e que poderiam estar servindo a comunidade foram esmagados por essa prática abominável.

Durante a última campanha concorri para deputado estadual e obtive 2.786 votos limpos, cristalinos e transparentes para minha alegria. Fiquei como segundo suplente do PSB. Recebi mais votos do que três deputados que estão hoje na Assembléia Legislativa: Donald Fernandes (PPS), Luís Calisto (PDT) e Gilberto Diniz (PTN).

Diante da enxurrada de compra de votos que se deu na eleição, me senti satisfeito com o resultado. Poderia ter conseguido mais votos? Acho que sim! Nos três últimos dias que antecederam as eleições, começou a chegar pessoas na minha casa falando das listas com 100, 70, 50, 48, 30, 20, 15 e 10 eleitores. Gente que eu nunca tinha visto na minha vida. Me recusei conscientemente a entrar nessa onda mesmo sabendo que as chances de vencer a eleição cairiam substancialmente. Pensei: “Não faz mal perder a eleição. Melhor assim”.

O leilão eleitoral foi aberto com valores que variavam de R$ 20, R$ 30, R$ 50 e R$ 100 reais. “Meu irmão não faço campanha assim”. “Meu amigo (a) eu não compro votos”. “Pelo amor de Deus, tira esse negócio de lista daqui. A Polícia Federal vai prender todo mundo. Saiam já daqui”. Foram dias nervosos. Sábado à noite, que antecede o pleito, mais parecia festa de final de ano com tanta gente acordada nos bairros. Eram os cabos eleitorais transportando dinheiro.

Depois da eleição um amigo que conseguiu que seu deputado federal ganhasse me disse numa tentativa desnecessária de consolo: “Astério essa eleição não foi a do dinheiro. Foi a do muito dinheiro. Não tinha como você ganhar”. Ainda depois da eleição, tinha deputado eleito pagando os votos obtidos através de listas lá no bairro Sobral.

Na TV Rio Branco no programa que criei, o Bom Dia Rio Branco, já combatia frontalmente a compra de votos. Na Câmara, antes das eleições, consegui a aprovação de uma sessão para discutir “O Voto Ético”.

Depois da eleição, digo, do festival de compra de votos, consegui a aprovação de outra sessão com o tema “A compra de votos e o papel da Justiça Eleitoral”, com as presenças dos juízes Solange Fagundes e Welington, do TRE. O que foi discutido daria uma tese de mestrado. Não houve repercussão na imprensa. A censura é tão nociva quanto à compra de votos.

Vou propor novamente um debate sobre a compra de votos. Qual o papel da Justiça Eleitoral? como torná-la mais célere? dos Partidos, dos candidatos? Que são os maiores interessados. No início de agosto (o recesso está às portas) a Câmara Municipal vai tratar do tema. Temos essa obrigação porque somos uma Casa de leis e uma Casa política.

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