Os bolivianos tratam os presos com crueldade. Muita crueldade. Não há civilidade nenhuma. Não há nada de humano nem de animal. É uma barbárie. Quando era vereador em Brasiléia de 1988 a 1992 tive a infelicidade de presenciar cenas monstruosas de maus tratos e torturas. Diante do que eles fazem por lá com os prisioneiros os presídios brasileiros parecem conventos. É terrível. A convite de um colega vereador fomos a Polícia Nacional interceder por uma rapaz de Epitaciolândia que havia comprado duas caixas de cerveja para revender e não voltou para pagar. Quando ele colocou os pés em Cobija não deu outra: A xôla chamou a policía e ele foi preso.
Fomos conduzidos a sala do coronel que mandou trazer o "safado". Quando nos viu o jovem se agarrou comigo aos gritos e chorando muito.
_ Pelo amor de Deus Astério me leva embora daqui. Eles vão me matar. Me ajuda pelo amor de Deus. O rapaz estava apavorado com a "roleta russa" que os soldados faziam com ele, além da sessão de tortura e espancamento. Porém, o mais grave estava por vir.
Fiz um cheque do Banco do Brasil no valor de R$ 50 pratas e deixei com o comandante. Quando estávamos saindo do prédio vi uma cela do lado de fora do quartel que me chamou a atenção. Era o calabouço. Sem me importar com mais nada me dirigi ao local. Fiquei chocado com o que vi. Uma jovem de 17 anos mais ou menos que eu conhecia de vista em Brasiléia. Era morena, bonita. Parecia um farrapo (literalmente) humano. Ela me contou em poucas palavras que fora presa comprando drogas em um ponto. Foi violentada pela soldadesca. Lhe negavam comida e água. Ficava exposta para que todos a vissem. Saí de lá abatido. Comuniquei o fato na Delegacia de Brasiléia e no Consulado brasileiro. Seis meses depois a encontrei. Apesar dos poucos anos parecia ter muito mais idade.
Não me surpreende as notícias de que prisioneiros brasileiros são torturados e mortos no presídio de Cobija. Faz parte da rotina. Ai daqueles que tiverem a infelicidade de caírem nas mãos da policía boliviana. Só a misericórdia de Deus!
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