7 de outubro
2º dia
5h30 da manhã
...o dia de ontem foi terrível. Até você se acostumar em uma balsa cheia de gente é doloroso, enfadonho, cansativo. Atei minha rede nos balaústres dianteiros da barcaça, como já disse, me posicionei na proa. Acho que é um gosto de criança. Desde a partida muita reclamação. Os de primeira viagem murmuram demais. Como já fui quatro vezes a Manacapuru na balsa tento ajudar, confortar, consolar...
Veio a tarde, o crepúsculo convidou a noite que chegou lentamente com os últimos raios de sol deitando no horizonte. Apesar do cansaço, não dormir muito bem. Acordava o tempo todo com gente se lamentando, gemendo e chorando. Sem contar as tagarelas narrando detalhadamente suas campanhas fracassadas. Uma lástima...mas não era só sofrimento. Haviam momentos de boas gargalhadas.
Um cara contou que perdeu a eleição, o emprego e a mulher. Outro, vendeu tudo o que tinha...até as calças e teve menos de cem votos. De certa forma é divertido ouvir essas histórias...uma senhora disse que foi enganada por um pastor. Veio o protesto na bucha:
_ Êpa! Pode parar! Pastor, não! Cabra safado porque pastor mesmo não engana ninguém.
Aprovação geral com direito a palmas.
Na balsa Não existe classe A, B, C ou D...todos são perdedores, são "os iguais": candidatos ao Senado, governador, federal e estadual. Não tem situação nem oposição. Um ajudando o outro por necessidade. Dividimos água, pão, frutas, comemos no mesmo prato, compartilhamos sonhos, vitórias, tristezas e fracassos.
O rio está coberto por uma neblina que aos poucos vai se desfazendo a medida em que os raios do Sol aparecem entre as árvores das margens. Sinto o cheiro do café, sento na rede com os pés tocando o chão frio do barco. Hora de levantar e ajudar na cozinha. É o meu turno. Formamos equipes de trabalho pra limpeza, comida...
Incrível como na mesma condição de fracasso as pessoas começam a se tratar bem. A cuidar uns dos outros, a serem gentis. Depois de tanta reclamação e protestos todos começam a se refazer e o ambiente começa a mudar...as diferenças vão ficando pra trás nas águas do rio.
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