Alagados
Aproveitei o barco do Antônio, "Timildo", também conhecido como "Peixeiro", para visitar as áreas alagadas. Eu, Ricardo Melo, Mariceudo e seu pai, o irmão Antônio. Conversei com pessoas que resistiam, não queriam sair de casa:
_ Gente vem muita água por aí...aceitem a ajuda da Defesa Civil. Vocês precisam ir para um lugar seguro. Insisti em vão.
_ Astério, diz um velho ditado que "barco perdido bem carregado", e caíam na risada na maior felicidade do mundo alheios ao sofrimento e a própria desgraça.
Encontrei, no Cidade Nova, um grupo fazendo churrasco na varanda de uma casa, com água na cintura:
_ Astério compra uma carne pra gente fazer um tira-gosto. Caíam na risada como se nada estivesse acontecendo. A alagação era apenas mais um motivo para tomarem uns goles.
Encontrei uma jovem com água "nos peitos", como se diz por aqui, dentro do Taquari com um gato nos braços, feliz da vida.
_ Astério passei a noite acordada preocupada com meu gatinho. Pensei que tinha morrido afogado, graças a Deus que não! Olha ele aqui. E parou para a fotografia.
No bairro Aírton Sena dei de cara com meu amigo Raimundo Coco. Água na janela da casa, rede atada perto do forro.
_ Tá dormindo aí mesmo Coco?
_ Mas claro! Ontem à noite tentaram roubar minha casa. Eram os ratos d'água. Quando eles se aproximaram no escuro dei com o lado do terçado na tábua da parede. Parecia um tiro. Saíram em disparada. Um até caiu na água. Deu aquela gargalhada como se tivesse contado a piada mais engraçada do mundo.
Hoje fico remoendo as conversas, vendo imagens e me perguntando: Como estarão agora essas pessoas? O que estarão fazendo agora?
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