Estou em João Pessoa, Paraíba, terra do meu avô materno. Realizo um antigo sonho acalentado desde minha infância
Bianor Benício da Silva era seu nome. Ele migou para o Acre em meados de 1892. Aos 18 anos foi cortar seringa com um de seus irmãos na região do Abunã (hoje Plácido de Castro). Contava que houve uma revolta no barracão do seringal. "Foi tiro para todos os lados", dizia. Durante o tiroteio ele e o irmão se protegeram atrás de uma sacupemba de um árvore - deveria ser um cumaru ferro. Meu tio avô foi dar uma "espiada" e levou um tiro na testa. Meu avô cavou uma sepultura rasa com um facão e saiu perdido pela mata. Andou como um louco por vários anos até chegar a casa de minha avó, que tinha apenas uns cinco anos de idade, no seringal Porvir, em Xapuri.
Trabalhou como Jacó pelo amor eterno de Rachel. Cortou seringa por toda a sua vida. Começava uma das mais belas histórias de amor que eu conheço. Não moreu rico, morreu farto de dias. Depois mudou-se para a colocação Cachoeira, Seringal Carmem, próximo a Brasiléia. Saiu no começo de 1970 para evitar briga com um sulista que adquiriu o seringal para transformá-lo em uma fazenda. Já estava cansado, não cortava mais seringa. Morreu em sua casa, em Brasiléia, nos braços de minha avó. Viveram mais de 50 anos juntos. Tinha mais de 98 anos quando se foi, minha avó faleceu aos 94 anos. Estou aqui porque devia isso a ele, aos meus pais, que já morreram, e a mim mesmo. Está valendo a pena. É mais do que um passeio. É um encontro com o meu passado. É a minha história.
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