segunda-feira, 16 de janeiro de 2017


O inefável, o fim do mundo...

Em sua previsão sobre a ascensão do niilismo, o filósofo Frederich Nietzche no século XIX foi aonde nenhum homem ousou pensar, imaginar ou andar.

Ele caminhou sobre os escombros de uma sociedade sem Deus. Além do bem e do mal, como um super-homem - no sentido de "além do homem", na tramutação de todos os valores. 

Previu o fim do cristianismo anunciando -como provocação - a morte de Deus. (Se Deus existe, não morre; se não existe, também não morre). A moral dos fracos, dos escravos. 

Um outro homem também foi ao futuro. João de Pátmos, que alguns creem ser o mesmo João, um dos doze apóstolos de Jesus. Diferente de Nietzsche ele viu um mundo com Deus. Falou com Ele e escreveu o Apocalipse. Percorreu labirintos através do misterioso e insondável caminho da fé e da revelação do Espírito.

Nietzsche e João foram ao fim do mundo que conhecemos: Um, na senda filosófica. O outro, na experiência religiosa. Vivenciaram, cada um ao seu modo, situações extraordinárias. Mergulharam no desconhecido.

Nietzsche escolheu o caminho da filosofia, do pensamento  lógico, racional. Porém, teve que desmontar e destruir toda filosofia que acenava para o ideal, para a existência de dois mundos. Fosse qual fosse. "Negar o mundo da vida é imperdoável para Nietzsche".

João, no Apocalipse, previu a destruição desse mundo da vida e a ascensão de um novo mundo. Depois de uma série de acontecimentos catastróficos, o Reino de Deus será estabelecido. Haverá um novo céu é uma nova terra. Sem Nietzsche, é claro.

Se João teve um acesso de loucura ao escrever o Apocalipse, o que dizer de Nietzsche? O certo é que os dois foram a onde ninguém ainda foi. Uns seguem João pela fé no sussurrar dos ventos, ouvindo a voz do espírito, no quebrar das ondas de um novo tempo, na paz infinita do paraíso. 

Outros vão com Nietzsche caminhar nas trilhas das montanhas geladas e íngremes da filosofia a golpes de martelo. Sentindo o aço do gelo na face e nas entranhas, que só um super-homem poderia suportar.

Se é que pode haver paz na filosofia de Nietzsche, ela reside na compreensão de uma realidade de que o fim é um ponto final. Sem tristeza nem dor. Nem antes, muito menos depois. Sem o alfa e ômega de João. 

Astério de Paula

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